sábado, 26 de julho de 2014

O reflexo da ignorância nos porões do holocausto Brasileiro

Enquanto a mídia muda o foco da Copa do Mundo para a invasão sionista a faixa de gaza, os rostos vão ganhando formas menos festivas e mais sisudas que os gerados pelos festejos dos meses de Junho e Julho aqui no Brasil. Ao que parece a guerra distante se tornou um tipo de prefacio do livro jornalístico do ano de 2014 para o segundo semestre, uma forma de mudar de pauta e iniciar o tom sério que deverá tomar conta do País com a chegada da campanha eleitoral.

Só existem duas coisas capazes de unir uma sociedade em prol de um bem comum... Uma grande tragédia, ou, um inimigo. Atualmente nós vivemos um momento atípico, pois o que não faltam são tragédias menores, recorrentes do nosso dia-a-dia para serem combatidas, mas o foco, de alguma maneira, mudou-se quase que inteiramente para o exterior. Como que de forma a nos dizer "Olhem para lá, não para cá." E assim a vida segue, apontando nos problemas alheios os inimigos que, agradecidos, festejamos por não ter que combater.

Foi de forma parecida, empurrando a sujeira para debaixo do tapete, que na década de 60/70, matamos mais de 60 mil pessoas em um matadouro humano disfarçado de Manicômio. Poucos conhecem a historia do Hospital Colônia de Barbacena, que inaugurado em 1903 teve seu ápice de horror durante o período de ditadura militar, quando para lá eram enviados os desafetos políticos e perseguidos pelo regime.





Mas, não foram somente esses os casos de transferências e internações desnecessárias. Em uma época de austeridade familiar, gays, adolescentes grávidas, jovens tímidos e introspectivos também eram diagnosticados como doentes mentais sob o consentimento de suas famílias, optando assim, por empurrar o que seria a sujeira, para onde ninguém pudesse ver, para debaixo dos tapetes, ou melhor, para debaixo dos porões de Barbacena.

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As milhares de vítimas travestidas de pacientes psiquiátricos, já que mais de 70% dos internados não sofria de doença mental, sucumbiram de fome, frio, diarréia, pneumonia, maus-tratos, abandono, tortura. Sem qualquer critério para internação, os deserdados sociais chegavam a Barbacena de trem, vindos de vários cantos do país. Eles abarrotavam os vagões de carga de maneira idêntica aos judeus levados, durante a Segunda Guerra, para os campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. Os considerados loucos desembarcavam nos fundos do hospital, onde o guarda-freios desconectava o último vagão, que ficou conhecido como "trem de doido". A expressão, incorporada ao vocabulário dos mineiros, hoje define algo positivo, mas, na época, marcava o início de uma viagem sem volta ao inferno.




" Visitei o campo de Auschwitz
não vi diferença.
O que acontece lá é a desumanidade,
a crueldade planejada. "
Ronaldo Simões Coelho
- Psiquiatra e escritor



Entrar na Colônia era a decretação de uma sentença de morte. Sem remédios, comida, roupas e infra-estrutura, os pacientes definhavam. Ficavam nus e descalços na maior parte do tempo. No local onde haviam guardas no lugar de enfermeiros, o sentido de dignidade era desconhecido. Os internos defecavam em público e se alimentavam das próprias fezes. Faziam do esgoto que cortava os pavilhões a principal fonte de água. "Muitas das doenças eram causadas por vermes das fezes que eles comiam. A coisa era muito pior do que parece. Cheguei a ver alimentos sendo jogados em cochos, e os doidos avançando para comer, como animais. Visitei o campo de Auschwitz e não vi diferença. O que acontece lá é a desumanidade, a crueldade planejada. No hospício, tira-se o caráter humano de uma pessoa, e ela deixa de ser gente. Havia um total desinteresse pela sorte. Basta dizer que os eletrochoques eram dados indiscriminadamente. Às vezes, a energia elétrica da cidade não era suficiente para aguentar a carga. Muitos morriam, outros sofriam fraturas graves", revela o psiquiatra e escritor Ronaldo Simões Coelho, 80 anos, que trabalhou na Colônia no início da década de 60.





"Os internos dormiam
em cima uns dos outros,
e os debaixo morriam.
De manhã, tiravam-se
os cadáveres"
Jairo Toledo - Psiquiatra


Os pacientes da Colônia, em sua maioria, dormiam no "leito único", denominação para o capim seco espalhado sobre o chão de cimento, que substituía as camas. O modelo chegou a ser oficialmente sugerido para outros hospitais "para suprir a falta de espaço nos quartos." Em meio a ratos, insetos e dejetos, até 300 pessoas por pavilhão deitavam sobre a forragem vegetal. "O frio de Barbacena era um agravante, os internos dormiam em cima uns dos outros, e os debaixo morriam. De manhã, tiravam-se os cadáveres", contou o psiquiatra Jairo Toledo, diretor do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB). Marlene Laureano, 56 anos, funcionária desde a década de 20, era uma espécie de faz-tudo. "Todas as manhãs, eu tirava o capim e colocava para secar. Também dava banho nos pacientes, mas não havia roupas para vestirem. Tinha um pavilhão com 300 pessoas para alimentar, mas só tinha o suficiente para 30. Imagine!"



Havia ainda o comercio de cadáveres para pelo menos 17 faculdades de medicina até o inicio da década de 80, cerca de 1.853 corpos foram vendidos, um comércio que incluía ainda a negociação de peças anatômicas, como fígado e coração, além de esqueletos.

Atualmente 190 pacientes asilares estão sob a guarda do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, mas sua sobrevida é estimada em, no máximo, mais uma década. "Acredito que, em dez anos, o ciclo dos porões da loucura se fecha", afirma o diretor Jairo Toledo, referindo-se às últimas testemunhas daqueles tempos de horror.



Em tempos de guerra, Ucrânia, Síria e Faixa de Gaza não são maiores que as nossas próprias tragédias quando vistas a um olho clinico e meticuloso. Ainda há inúmeras instituições manicomiais, centros de recuperação de viciados em drogas e presídios que precisam urgentemente ser revistos pelo poder público. Não olhem tão longe, nossos inimigos (problemas) estão muito mais próximos do que parece...









Neste post usei como fonte de informações o livro: Holocausto Brasileiro, da escritora, Daniela Arbex. Editora: Geração



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